Queridos irmãos e irmãs,
Ainda ressoa em nossos corações o trecho da profecia de Isaias proclamado na liturgia da Palavra no quarto domingo do advento: O próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará á luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel. (Is 7,14). Através do Profeta, Deus faz uma promessa à casa de Davi: uma virgem conceberá e dará à luz um filho que terá o nome de Emanuel, que significa “Deus está conosco”. Essa promessa é feita em tempos de guerra, de iminente invasão e destruição do reino de Judá. Invadir Jerusalém significava o fim do povo de Deus, da nação santa, da raça escolhida. Acaz, o rei, não quer pedir a força de Deus para o combate. Acha-se forte o bastante para enfrentar sozinho os seus inimigos.
É nesse contexto que o Senhor por meio do profeta promete que não deixará o seu povo sozinho. A promessa traz consigo o sonho de um tempo novo, de um mundo novo, sem destruição, sem morte, sem violência. E para isso combina um sinal: uma jovem há de dar à luz, dela nascerá um menino. Através dele, o Senhor será o Deus conosco, o Emanuel. A promessa está feita, o pacto foi firmado. A partir de então o povo há de viver da promessa de Deus. Ela alarga o horizonte do povo, enche-o com a esperança de que o seu enviado, o Messias, virá!
Nesta noite, portanto, celebramos o cumprimento dessa promessa. Ela se torna realidade palpável. A palavra se torna carne, Deus se faz humano, o Todo-poderoso se reveste da fragilidade, o eterno habita a história, o grande se torna pequeno, aquele que tudo fez nascer nasce do ventre da jovem mulher. Como cantamos agora há pouco: “após espera tão longa, irrompe a noite que é dia, até os palácios se apagam, diante da estrebaria”. Não mais o profeta, pois não se trata de uma promessa, e sim um anjo, que comunica aquilo que já aconteceu, anuncia aos pastores: “isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura”. O que estava escondido foi revelado, o que estava distante agora está presente! Novamente um sinal. Não mais um sinal da promessa, mas o sinal do Emanuel, o Deus conosco.
No menino envolto em faixas, colocado sobre a manjedoura está revelada a ternura, o amor, o carinho e o cuidado de Deus. Ele vem para todos e ninguém está excluído do seu abraço e do seu calor. Mas é ao povo que anda nas trevas, aos habitantes da sombra da morte, às mulheres e aos homens que carregam sem cessar o jugo da escravidão que se destina em primeiro lugar esse anúncio de luz e consolo. Como é bom saber, mais do que isso, como é bom sentir que o Senhor não abandona o seu povo, não se esconde, não rejeita aqueles que são rejeitados, não exclui os que são excluídos. Sua presença se faz notar entre os pequeninos, simples e pobres. Para esses a mensagem é de grande alegria.
Nessa noite em que contemplamos com o coração esse mistério da encarnação aprendamos com o menino da manjedoura. Aprendamos com ele a nos aproximarmos de quem caminha nas trevas, de quem sofre, que quem se sente sozinho, mal amado, rejeitado ou esquecido. Não tenhamos medo de nos aproximarmos dos preferidos de Deus. Deixemos de lado nosso preconceito e comodismo que nos paralisam. Aprendamos com o menino da manjedoura a sermos simples. Simplicidade que se expressa na rejeição dos privilégios que tanto queremos sustentar como sinal de uma superioridade que não gera vida e sim morte.
E finalmente meus queridos irmãos e irmãs corramos o risco de ir além da manjedoura, porque além da manjedoura há frio, fome, medo, cansaço tristeza e solidão. Para além da manjedoura há homens sem esperança, mulheres maltratadas, crianças em busca de carinho, jovens com vontade de viver. Para além da manjedoura há uma periferia esquecida, há um povo sofrido, há um mundo de gente e de irmãos deixado de lado. A festa do Natal do Senhor não se resume em simplesmente olhar a manjedoura. O próprio Menino nos convida a ir além: ser presença na ausência, calor no frio, consolo na dor, perdão no ressentimento. Para se celebrar bem o Natal é preciso ir além, levando consigo um Deus menino, que se faz gente, que se faz irmão e acalenta o coração.